RESENHA: O ÓRFÃO DE HITLER - PAUL DOWSWELL

SINOPSE

Piotr é um menino polonês quando os nazistas invadem seu país e matam seus pais. Seu destino parece traçado: viver num orfanato, sendo depois oferecido para trabalho escravo. Mas seus olhos azuis, seu cabelo loiro e sua pele clara fazem dele um exemplo da raça pura, um modelo para a Juventude Hitlerista. Então, os alemães o entregam a uma família nazista.

Só que Piotr, que nunca deixa de se sentir estrangeiro junto a sua nova família, começa a formar seus próprios conceitos sobre o que vê e o que lhe é dito. Ele não quer ser um nazista. E então assume um risco – o mais perigoso que poderia escolher na Berlim de 1942.

Vencedor de seis prêmios e finalista de outros dezesseis, este romance de Paul Dowswell parte de uma pesquisa meticulosa para uma narrativa cheia de reviravoltas, trazendo à tona um ângulo diferente dos horrores da Alemanha nazista.

O Órfão de Hitler, Livro escrito pelo Romancista Britânico Paul Dowswell tem por título original “Auslander”, a palavra alemã para "estrangeiro"; e esse é exatamente o núcleo sobre o qual a história gira: um conto convincente sobre as  experiências de uma juventude estrangeira na Alemanha nazista.

Quando os pais de Piotr são mortos na invasão alemã da Polônia, ele é enviado para um orfanato de Varsóvia junto com outros órfãos da guerra. Mas Piotr, de 13 anos, é um dos "afortunados"; Ele é Volksdeutscher - de sangue alemão, com cabelo loiro e olhos azuis; um perfeito exemplo de raça ariana, e por isso é selecionado para ser adotado por uma família alemã.

O mesmo então é escolhido por Her Kaltenbach, que possui  um trabalho importante dentro do contexto nazista: o de decidir quem é "racialmente valioso" ou "racialmente sem valor". Agora que vive junto a uma família tipicamente alemã, Piotr ganha três novas irmãs e uma nova mãe, Frau Kaltenbach, que inicialmente o trata com frieza. 

Quando Piotr retorna para Berlim com os Kaltenbach, ele é rebatizado como Peter e espera-se que mantenha os mesmos pontos de vista de sua família adotiva em relação a judeus e eslavos, bem como apoiar politicamente os nazistas. Ele é mantido ocupado com sua nova escola e suas reuniões da juventude de Hitlerista, mal sobrando tempo para sentir saudades de Polônia. Em suas fantasias, ele quer ser piloto da Luftwaffe, para deleite de Herr Kaltenbach.

  

" Proibida a entrada de poloneses, judeus e cães"

Placa em um estação de trem.

Mas a zona de conforto de Piotr é desafiada pela realidade da vida em Berlim, quando vê meninos poloneses, os Ostarbeiters, sendo sobrecarregados de trabalho e famintos. Dividido entre seu desgosto com o que os nazistas estão fazendo e seu medo de reagir a isso tudo, Piotr deve precisa fazer uma escolha que poderia custar, em última instância, a vida.

Contada a partir do ponto de vista onisciente duma terceira pessoa, O Órfão de Hitler fornece um olhar único sobre vida em Berlim durante a Segunda Guerra Mundial. Embora a maior parte da narração seja do ponto de vista de Piotr, Dowswell também inclui as perspectivas de muitos outros personagens na novela, e é precisamente o uso de diferentes narradores que dá a este romance sua abordagem equilibrada.

Existem caracteres alemães que são cem por cento caricatos que acreditam completamente na propaganda Nazi tal como o professor Kaltenbach e sua esposa. Os Reiters representam aqueles alemães que não concordaram com as políticas raciais nazistas e que trabalharam para mitigar o sofrimento dos judeus e aqueles que faziam parte da resistência. Também são retratados personagens que originalmente apoiaram os nazistas, mas quando perceberam realmente o que estavam fazendo, tentaram desesperadamente libertar-se. E havia também, naturalmente, muitos cidadãos alemães, que foram torturados pelos nazistas a fim de entregar vizinhos e amigos não favoráveis à ideologia.

O fanatismo dos nazistas é bem retratado no romance e Dowswell inclui partes de discursos e textos usados pelos nazistas para fomentar o ódio contra judeus e outros grupos étnicos considerados indesejáveis, além de promover a guerra. Um dos principais temas do romance é o da identidade; Piotr perdeu seus pais e quer muito se encaixar na sociedade alemã, e essa jornada é ainda mais pungente por causa de suas circunstâncias.

Piotr não tem permissão para ser ele mesmo, nem para expressar suas próprias visões sobre o que está acontecendo. Ele deve se conformar com o modo de pensar nazista ou correr o risco de ser enviado para um campo de trabalho ou talvez pior? Gradualmente, à medida que os olhos de Piotr são abertos para o que os nazistas estão fazendo para as pessoas comuns, simplesmente porque são diferentes, ele chega a entender o preço da conformidade, tanto pessoalmente como para o país. Apesar de ser muito conflituoso, começa a resistir e trilhar caminhos secretos sutis que o levam a se tornar parte da resistência e arriscar tudo.

  

“Noite feliz, noite feliz, Eis que no ar, vem cantar,

Adolf  Hitler ergueu o país, Ouçam bem o que o Füher diz...”

O Livro trabalha bastante a ideia de que as pessoas boas podem fazer coisas ruins, e também sugere que todos pensem cuidadosamente antes de montar algum tipo de caricatura ou estereótipo. Estes resultados derivam naturalmente da caracterização sutil. Na verdade, a história se concentra muito no enredo, que contém uma quantidade agradável de ação e perigo para manter preso e curioso sobre o que pode acontecer a seguir.

O enredo também é recheado de detalhes históricos necessários que fazem com que os leitores se sintam realmente na Alemanha enfrentando a Segunda Guerra Mundial, mas é interessante ter em mente que nada vem mastigado. Se os leitores quiserem captar qualquer lição do livro, elas não serão ditadas pelo autor, mas sim lapidadas das informações apresentadas.