RESENHA: O GUARDIÃO INVISÍVEL - DOLORES REDONDO

SINOPSE

O corpo de uma adolescente é encontrado às margens do rio Baztán, num pequeno povoado em Navarra, na Espanha, e para desvendar o caso a investigadora Amaia Salazar precisa voltar à sua terra natal, uma região da qual sempre tentou escapar – por motivos que nem seu marido conhece, mas que ainda a atormentam na forma de pesadelos.

Amaia sabe que o local, marcado pela inquisição espanhola, é cheio de velhas crenças pagãs. O que ela não imagina é que, com o avanço da investigação e a descoberta de novos corpos, a fronteira entre mitologia e a realidade ficará cada vez mais tênue. O desafio agora é descobrir se os crimes resultam da ação de um serial killer ou de uma criatura mítica conhecida como basajaun, o guardião invisível.

Adaptado para o cinema em 2017, o romance O guardião invisível é um thriller impactante que une os misteriosos seres que habitam a mitologia basca com o rigor de uma investigação policial. Foi com este romance que a escritora Dolores Redondo se tornou best-seller internacional. Primeiro da Trilogia de Baztán, que já teve mais de 1 milhão de exemplares vendidos.

Navarra, no Nordeste de Espanha, é um lugar onde as tradições celtas e pagãs se fundiram com a ideologia católica mais dominante pela qual a Espanha é conhecida, criando um ambiente muito especial. Imagine dias nublados, nebulosos e molhados durante a maior parte do ano, florestas profundas e uma imensidão verde e úmida que corrompe sua visão. Bem-vindo ao Norte da Espanha. Amaia Salazar, a protagonista de O Guardião Invisível (ou El Guardián Invisible), é uma detetive que tem de voltar para casa em Baztán, um vale localizado justamente em Navarra, a fim de investigar o assassinato brutal de meninas adolescentes. 

Amaia Salazar sofre com insônia e seguia sua vida rotineiramente quando foi chamada para um novo caso. Somos levados para uma cena de crime  ​​onde o corpo nu de uma adolescente é encontrado. Menos de 24 horas após o cadáver ser descoberto, o caso é conectado ao assassinato de outra menina no mês anterior.

  

“O que importa realmente: que algo seja verdade ou que muitas

pessoas acreditem que é verdade?”

A inspetora Salazar agora luta contra os preconceitos chauvinistas, os segredos estritamente guardados e superstições enquanto tenta resolver  não um, mas uma série de assassinatos brutais e bizarros que começam a adquirir um padrão.

O romance tem uma das mais complexas histórias policiais que li nos últimos anos. Mesmo Amaia sendo jovem, possui uma carreira bem sucedida como detetive de homicídios e está feliz casada com James, um escultor americano, contudo, ela tem um passado problemático. Quando volta ao vale do Baztán, somos apresentados as suas duas irmãs, Flora e Ros, e sua tia, Engrasi, um grupo maravilhoso de mulheres com pontos de vista muito diferentes, mas que se mantêm unidas através de espessos laços.

Antes da minha leitura eu tinha ouvido elogios a este romance precisamente por causa dessas mulheres e, embora tivesse minhas dúvidas ao longo da leitura, posso dizer que essa é uma característica especial da obra e algo que nunca havia visto na ficção de crimes. Se o detetive é geralmente um ser solitário, ou tem uma equipe profissional no melhor dos casos, Redondo criou uma detetive com uma família feminina próxima que vai ajudá-la, não importa o quão terrível seja a situação.

Os crimes também tiveram seu toque especial, com Redondo oferecendo-nos descrições muito detalhadas dos corpos e das cenas do crime. Este é o momento em que eu adverto os leitores sobre as descrições, porque mesmo tendo acesso à história através do ponto de vista de Amaia, nos é dada toda a informação sobre o que aconteceu aos corpos das meninas. Estes detalhes nunca são gratuitos ou desnecessários, e todos eles são relevantes para resolver o caso, mas eu compreendo que muitos leitores não se sintam confortáveis com os mesmos. Se você é um leitor de ficção criminal, é mais do que provável que você tenha encontrado essas descrições antes.

  

“As dores que não foram choradas e expiadas no seu tempo

voltarão vez por outra às nossas vidas como restos de um naufrágio.”

Como mencionei anteriormente, a mistura das tradições e mitologias celtas e pagãs com as católicas é típica das províncias do norte da Espanha: Imagine uma mitologia antiga misturada com obscuras representações católicas. Isso criou um plano de fundo mítico e muito interessante, principalmente para as personagens femininas.

O livro chegou aos cinemas Europeus em março desse ano sob a direção de Fernando González Molina (mesmo diretor de Paixão Sem Limites, Palmeiras na Neve e Sou Louco Por Você), por isso o livro ganhou uma edição especial da Editora Planeta com o pôster do filme na capa.

Para quem estiver interessado em histórias policiais com base europeia, ou interessado na cultura basca, ou ainda esteja à procura de um bom suspense dotado de realismo fantástico, vale muito à pena a leitura. Eu estou certamente ansioso para o restante da trilogia.